segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A necessidade de reequilíbrio

A NECESSIDADE DE REEQUILÍBRIO


As estatísticas oficiais divulgadas nas últimas semanas não são nada animadoras. Além do arrefecimento da atividade econômica no Brasil e queda de emprego da indústria, os balanços do setor externo e as contas do governo fecharam com saldo negativo. Essa situação é conhecida como déficits “gêmeos”, resultado um agravamento da poupança pública e privada – sistematicamente baixas no Brasil.

Para ter uma ideia da gravidade dessa situação, o déficit no setor externo atingiu 4,7% do PIB, ou seja, US$ 90,9 bilhões de dólares. ¹ Proporcionalmente, é o maior resultado negativo desde 2001, e o maior valor desde que a série começou a ser divulgada. Esse é um caso onde a demanda brasileira “vaza” para o exterior.  Em outras palavras, o Brasil necessita se financiar e atrair a poupança do resto do mundo para fechar suas contas externas.

Já o resultado primário das contas públicas foi deficitário em R$32,5 bilhões (0,63% do PIB). Esse dado, cujo significado é de que o governo gastou mais do que arrecadou em 2014, representa a primeira vez que isso ocorre desde 1997, início dos dados disponíveis. ² Outro dado alarmante, que tem relação com a dívida pública e a necessidade do financiamento dos gastos, é o pagamento de juros. A dimensão do tamanho desses gastos, como noticiado pela Folha de São Paulo, é de que eles pagariam uma década do Programa Bolsa Família. ³

A rápida deterioração dessas contas faz com que o país aumente sua vulnerabilidade, aumentando assim os riscos percebidos pelos investidores e empresários, tanto nacionais como estrangeiros – o que aumenta também a necessidade de manter juros altos. Investir em uma melhora no ambiente de negócios, desburocratização, ampliação das exportações, controle da inflação, aumento de arrecadação e ou diminuição dos gastos do governo são algumas medidas que vão nesse sentido. Os ajustes anunciados e os já efetivados até aqui pelo governo tem essa dimensão, mas ainda há muito a ser implementado dado os desequilíbrios verificados nos últimos anos. A recuperação da capacidade fiscal do governo e dos investimentos públicos e privados depende do sucesso desse plano.

³http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/01/1583320-gasto-de-r-251-bi-com-juros-pagaria-uma-decada-de-bolsa-familia.shtml