A NECESSIDADE DE REEQUILÍBRIO
As
estatísticas oficiais divulgadas nas últimas semanas não são nada animadoras.
Além do arrefecimento da atividade econômica no Brasil e queda de emprego da
indústria, os balanços do setor externo e as contas do governo fecharam com
saldo negativo. Essa situação é conhecida como déficits “gêmeos”, resultado um
agravamento da poupança pública e privada – sistematicamente baixas no Brasil.
Para ter uma
ideia da gravidade dessa situação, o déficit no setor externo atingiu 4,7% do
PIB, ou seja, US$ 90,9 bilhões de dólares. ¹ Proporcionalmente, é o maior
resultado negativo desde 2001, e o maior valor desde que a série começou a ser
divulgada. Esse é um caso onde a demanda brasileira “vaza” para o
exterior. Em outras palavras, o Brasil
necessita se financiar e atrair a poupança do resto do mundo para fechar suas
contas externas.
Já o resultado
primário das contas públicas foi deficitário em R$32,5 bilhões (0,63% do PIB). Esse
dado, cujo significado é de que o governo gastou mais do que arrecadou em 2014,
representa a primeira vez que isso ocorre desde 1997, início dos dados disponíveis.
² Outro dado alarmante, que tem relação com a dívida pública e a necessidade do
financiamento dos gastos, é o pagamento de juros. A dimensão do tamanho desses
gastos, como noticiado pela Folha de São Paulo, é de que eles pagariam uma
década do Programa Bolsa Família. ³
A rápida
deterioração dessas contas faz com que o país aumente sua vulnerabilidade,
aumentando assim os riscos percebidos pelos investidores e empresários, tanto
nacionais como estrangeiros – o que aumenta também a necessidade de manter juros
altos. Investir em uma melhora no ambiente de negócios, desburocratização,
ampliação das exportações, controle da inflação, aumento de arrecadação e ou diminuição
dos gastos do governo são algumas medidas que vão nesse sentido. Os ajustes
anunciados e os já efetivados até aqui pelo governo tem essa dimensão, mas
ainda há muito a ser implementado dado os desequilíbrios verificados nos
últimos anos. A recuperação da capacidade fiscal do governo e dos investimentos
públicos e privados depende do sucesso desse plano.